SERÁ QUE EXISTE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES?


Caminhei sozinha para dentro do hospital avisando a atendente de que eu estava em trabalho de parto era pouco mais de 17h. Como havia feito o pré-natal apenas com um médico, ingenuamente acreditei que ele faria o meu parto.
A moça virou-se para mim e disse.
__ Você tem dinheiro? Se não tem dinheiro para pagar particular, quem faz o parto é o médico de plantão mesmo.
Esse foi o meu primeiro choque. Encaminharam-me a enfermaria para os procedimentos. O médico (se é que posso chamar aquele animal de médico) veio para fazer o “toque”, tudo foi feito horrivelmente às pressas e de qualquer forma, uma verdadeira violência. Eu tinha dilatação, mas a bolsa não rompia.
Fui encaminhada para a lavagem intestinal, da qual sequer sabia que tinha de ser feita, antes, porém foi realizada a tricotomia (raspagem dos pelos e higienização com álcool iodado, experimente raspar os pelos com gilete e jogar álcool), eu também não sabia que seria feita. Pré-natal para quê? Ninguém me explicou nada de nada. Eu me sentia só, e triste e com dor. O médico voltou mais algumas vezes para fazer outros “toques”. Até que depois de muito gemer de dor lá pelas 22 horas tomaram a decisão de romperem a bolsa e me levarem para a sala de parto. Uma enfermeira fazia perguntas e preenchia um papel e outra empurrava minha barriga para baixo enquanto o médico só olhava. Quando a contração forte veio e eu gritei de dor o médico disse:
__ Cala essa boca, você vai assustar as outras mães, ou você acha que está sozinha aqui?
A enfermeira perguntou se eu tinha escolaridade, e antes que eu respondesse a outra enfermeira disse:
__Isso não deve ter estudo não.
E assim na ficha ficou preenchido que não tinha estudo, quando cursava a muito custo o segundo ano do ensino médio.
Depois de horas de esforço e humilhação a bebê nasceu. 3,050kg, mas, a enfermeira escreveu na ficha 3,5kg. No começo eu achei que isso me beneficiava, por que, no fundo as mulheres meio que competem o peso dos bebês quando nascem com a ilusão de quanto mais gordo mais saudável. No entanto, isso me prejudicou muito quando a minha filha ao retornar para as consultas não engordava e acompanhava a ficha.
Depois que o neném nasceu eu achei que o martírio tinha acabado, mas não. Parir a placenta é outro parto. Assim que a placenta saiu o médico perguntou.
__ Você conhece uma placenta? VOCÊ CONHECE UMA PLACENTA? (gritou)
Assustada. Respondi que não e ele quase esfregou a placenta no meu nariz.
Costurou a episiotomia de uma forma que jamais esquecerei que tive um parto normal. Deixando uma cicatriz imensa e dolorida me impossibilitando de usar até mesmo alguns tipos de lingerie.
Em estado de choque fui levada para a enfermaria. Lá nas paredes, havia avisos do que era necessário levar quando do dia do parto. Mas eu sequer conhecia a enfermaria e jamais tive contato com a tal lista de materiais. As enfermeiras me repreendiam porque eu não tinha trazido nada além da mala do bebê.
Nesse momento eu fazia as contas dos minutos para ir embora dali. Lembrava-me das aulas de história sobre os campos de concentração e me sentia em um. 
Num curto espaço de tempo o sangue começou a escorrer pela borda do colchão de napa. Eu estava com hemorragia. O médico voltou muito irritado, fez uma raspagem ali mesmo na cama a tal placenta não tinha saído toda.
Recusei-me a dormir. Não aceitava ficar naquele lugar. Não acreditava que podiam tratar um ser humano com tanta desumanidade. Amanheci acordada.
Desesperada só pensava em sair daquele lugar. E quando às 6h da manhã mudou o turno a enfermeira avisou.
__Você já está de alta.
Passei o telefone de casa e pedi para avisarem o marido, que nessa época não trabalhava, para vir me buscar. Não veio. Comecei a ficar desesperada. Queria ir embora. Lá pela hora do almoço, peguei minha filha nos braços e a mala, as pernas todas sujas de sangue e disse que ia embora.
Estava já quase na rua quando o sogro encostou o carro e me deu carona até em casa. Chegando lá esperava apenas por um abraço, mas o marido não estava nos esperando. Tomei banho e arrumei a neném ao meu lado na cama e fiquei esperando.
Meu coração deu um pulo de felicidade quando ouvi o barulho do carro, pensei: Agora ele vem me ver!
Ele passou pela porta do quarto aberta e seguiu em frente sem ao menos olhar para mim. Desesperada chorei por horas a fio. Sozinha. Ele iria pegar a filha no colo 6 meses depois desta data.
O médico perdeu o CRM um tempo depois por reclamação de mãos tratos aos pacientes. Eu não posso ver pessoas de jaleco branco, frequentar hospitais ou consultórios, pois tenho pânico.


Lunah Lan

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