O SABOR DA COCA-COLA

Minha mãe para seguir os passo errantes do meu pai, deixou-me aos cuidados de minha avó (agradeço muito por isso, esse período significou menos surras, mais sonhos e possibilitou-me a criatividade da solidão, que eu prometo contar em outro texto). Tinha nessa época entre 6 a 8 anos.
Minha avó necessitava de constantes viagens para tratamentos médicos na capital e deixava-me aos cuidados de outros parentes.
Certa feita fiquei com uns tios, casa cheia de crianças. Na casa moravam o casal e cinco filhos, dois jovens, dois adolescentes e um mais novo que eu. Até aí tudo bem. Eles tinham o compromisso me mandar para a escola, me alimentar e fornecer local para eu dormir enquanto minha avó estivesse fora. Não tinha café da manhã como a vovó fazia – pão com ovo frito, um copo de leite com chocolate e aveia. Era uma caneca de chá, se quisesse. Quando eu chegava da escola todos já haviam almoçado e eu podia comer o que tivesse sobrado. Era visível a má vontade em tomarem conta de mim.
Uma noite, colocaram-me pra dormir mais cedo. Eles queriam comer algo especial e tomarem coca-cola, um luxo na época e um desejo meu de criança. Se eles não tivessem tanta preocupação em me mandarem pra cama e tanto afinco em confirmarem que eu estava dormindo eu nem teria percebido o movimento. Mas como a toda hora vinha alguém pra saber se eu já tinha adormecido. Desconfiei. Astuta, fingi estar dormindo. Quando enfim a pizza e a coca-cola chegaram levantei e dei a desculpa que queria ir ao banheiro. Todos perceberam a minha armação. E o tiro saiu pela culatra. Deram-me um sermão por estar me intrometendo em um jantar de família. Falaram mal da minha mãe que era uma irresponsável que me deixava aos cuidados da minha avó doente e mandaram-me de volta á cama, sem pizza, nem coca. Não foi dessa vez que descobri esse sabor. Mas, serviu-me de lição para conhecer a falsidade das pessoas. Pois, quando minha avó estava viajar esses parentes vinham me agradavam e prometiam cuidar-me. Obviamente havia segundas intenções. Fiquei muito sentida com tanta canalhice na época, mas hoje depois de tanto tempo eu os recebo em minha casa e divido com eles o meu alimento. E não sinto mágoa. Eu os perdoei, porém jamais esqueci e levo esta lição para a vida.

Lunah Lan

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