O PULSAR DE UM CORAÇÃO
Tantos dilemas passam no mundo lá fora. Bombas, crises,
desastres ambientais, guerras...
Meu mundo particular não é diferente. A bomba de não ter a
idade para participar de muitas coisas, é o mundo acha que você é invalido depois dos 35 anos. A crise de não aceitar o meu corpo como ele é porque ele não é como o
padrão exigido pela mídia de modelos altas, magérrimas, loiríssimas, fúteis e de unhas
compridas. O desastre ambiental que sou. Quem me conhece, associa a
um furação, trompo em tudo, derrubo, quebro, tenho medo até de me mexer e
estragar alguma coisa. Guerras... Ah! As guerras. Essas sim. Faço de tudo pra
não decretar uma, tenho um campo diplomático extenso, porém limitado. Depois de
chegar na linha geodésia da minha diplomacia, sou faca na caveira.
Mas, na maioria das vezes preencho os meus dias sonhando com
o amor ideal. Como a menina que fui um dia desde que me lembro, que lembro de
alguma coisa. Sonhava com esse amor, alguém que amaria os meus olhos, as minhas
palavras, os meus sonhos e não se importaria com o meu dente (da frente)
quebrado que muito me irrita e faço tudo pra esconder. Alguém que tivesse
orgulho de estar comigo na praia e não se importasse com as muitas cicatrizes
que tenho nas pernas, como eu me importo. Enfim, alguém que eu conseguisse
fazer feliz apenas com amor, presença e dedicação e não por beleza e escravidão.
Isso tudo faz parte de um segredo, um dia, na quinta série,
uma menina muito feia e magra, sem amigos, olhou para um canto no pátio na hora
do intervalo e filosofou.
Um dia eu vou estar sentada ali naquele canto, sozinha,
olhando o nada e o amor da minha vida vai chegar e vai pedir pra sentar ao meu
lado. Mas aí começaram a borbulhar as ideias. Será que um dia eu vou me lembrar
de que deverei sentar naquele canto? Será que com o passar do tempo eu não vou esquecer-me
desse trato comigo mesmo?
O tempo passou, eu nunca esqueci, mas também nunca mais
estive lá. Acho que perdi o amor da minha vida para sempre. Ele povoa meus
pensamentos, está comigo todos os dias, todas as noites, mas nunca verei seu
rosto, nunca saberei o seu nome, quantos anos tem.
A menina cresceu e distante vê os dias passarem, meses,
anos. Não olha mais no relógio, não tira mais fotografias. Mente para si mesmo
que não o espera mais. É claro que espera, esse é o único motivo que impulsiona
seu coração a continuar pulsando.
Lunah lan
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