GAROTA DE PROGRAMA
Aos 14 anos estudava a 8ª série em escola pública, a
mãe conseguiu vaga para trabalhar em uma escola particular do OBJETIVO e uma
bolsa para mim. No entanto, os alunos todos de família abastada e tradicional
não aceitaram muito bem que eu compartilhasse a mesma sala que eles. E ainda
mais que com muito esforço, apesar de trabalhar como empregada doméstica na
época tirava notas mais altas que eles.
Estudava no período matutino saía da escola ia direto
para o trabalho, trabalhava simultaneamente em duas casas de família. Assim que
terminava um serviço corria para o outro.
Após a jornada de trabalho (que tinha de acabar
enquanto era dia, pois não podia chegar em casa a noite) corria para a casa
para fazer as tarefas e estudar.
Certo dia, voltando do trabalho a passos largos um
dos colegas de turma, em cima de sua moto, (na minha cidade menor de idade pode
ter a sua própria moto, se for rico) parou do meu lado e disse:
__ Vamos fazer um programa?
Sem saber direito do que ele estava falando, eu
respondi:
__ Programa? Que tipo de programa?
__Sei lá, assim, a gente sai junto, fica, tipo
assim.
Eu não suspeitava do que se tratasse, não tinha a
menor ideia do que era uma garota de programa ou o que significasse o
convite. E respondi.
__ Vou perguntar para minha mãe pra ver se ela
deixa.
Com um sorriso safado, porém meio desconcertado ele
arrancou com a sua barulhenta moto e se foi.
Não perguntei para a minha mãe se poderia sair com
um colega de sala, fosse para fazer o que fosse a resposta seria obviamente
não.
Ingênua, achei que o menino queria me dar atenção,
ou que quisesse ajuda nos estudos, já que era o pior em notas entre todos os
outros.
Muitos anos depois, já tinha as filhas quando fui
descobrir o que realmente significava o convite e a sua intensão de me machucar
me chamando de garota de programa.
Por muito tempo eu sofri, por aquele rapaz, agora
homem influente na sociedade, ter tido aquela intenção bárbara de machucar alguém
inocente que nunca lhe fez mal, pelo único motivo de não pertencer a sua classe
social.
Recriminei-me por ser ignorante e não ter
conhecimento sobre o que me falava (prometi que nunca mais ia parar de estudar
e que ia aprender de tudo).
Hoje porém, agradeço pelo anos de paz que tive
devido a ignorância e por ter superado de cabeça erguida quando tão inocente
era, fui confundida com uma garota de programa por ser uma garota pobre.
Lunah lan
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