FILHAS, MENINAS DOS MEUS OLHOS
Há 18 anos recebi uma missão, a de cuidar da minha primeira filha, há 15 anos (quase 16) nasceu minha segunda filha. Fui concisa no cuidado com elas, tudo o que fiz desde então foi pensando nelas, cada roupa que eu podia comprar, escolhia com cuidado e esmero, cada roupa que eu não podia comprar eu fazia, refazia, customizava com crochê, bordados e adaptações.
Elas são lindas, duas princesas. A mais velha – é uma flor sensível, delicada, doce, mas forte, acho que se assemelha a orquídea, que sobrevive a lugares e tempos inóspitos, pois guarda em si energia para sobreviver. A mais nova – uma florzinha do campo, leve e solta, tão delicada quanto à irmã e forte para suportar os ventos que mudam sempre.
Estive ao lado delas em cada momento, em cada febre, gripe, caxumba, catapora, alergia, falta de ar, noites de insônia...
Lembro-me de estar ao lado delas, por exemplo: a cada sorriso, os primeiros passinhos, o primeiro dentinho, as primeiras palavras ditas, os cachinhos dos cabelos, o primeiro dia na escola, os trabalhinhos, as tarefinhas, as vitórias e as derrotas nas provas, primeiras braçadas na natação, a primeira vez que viram o mar, os idas aos parques de diversões, as viagens, madrugadas jogando vídeo game, nós três jogando puzzle no PC, nós três jogando CS juntas na nossa lan house na virada do ano,...
Minhas filhas, meu orgulho. Muitos elogios dos professores pelo ótimo comportamento. Nas festas sempre eram elogiadas, pelo respeito aos mais velhos, discrição no comportamento, respeito até ás outras crianças... Não tinham frescura para comer, compreensivas, adaptavam-se a qualquer situação... Éramos nos três, assim unidas.
Fazia o que podia para que as meninas tivessem uma vida com o melhor que eu podia dar, mas sempre a par da realidade, assim elas cresceram, infantis de corpo e alma, brincavam de bonecas, de casinha aos 16 e 14 anos, mas com mente de adulto que pondera as situações antes de decidir.
Mas eu tinha uma vida incompleta, um casamento que me aprisionava, castigava e diminuía, mesmo assim, dedicava-me ao máximo para que tudo desse certo, ou fosse o melhor possível.
A minha felicidade era ver que elas se tornavam cada vez seres humanos melhores, agora com as decisões dependendo mais delas mesmas, e pensei que era o momento de me libertar, mas não seria nada assim tão fácil, depois de 20 anos de prisão e condicionamento que me faziam pensar que eu não era capaz, que eu não fazia nada certo, que ninguém mais gostaria de mim no mundo, que ninguém me trataria melhor do que eu estava sendo tratada ali...
Mesmo assim, havia uma voz dentro de mim dizendo que se eu não fizesse isso, morreria sem me sentir livre, morreria assim sem ser dona de mim, sem fazer algo e saber que era eu mesmo que tinha feito.
Depois de dois anos separada, mas tendo que fingir que não socialmente, por exigência do ex-marido, um dia resolvi sair, ir embora, deixei tudo o que construí, com meus próprios braços, com a sabedoria que adquiri nos estudos constantes, com as decisões que tomei mesmo sendo recriminada, deixei tudo. Levei-as comigo, apesar das extremas necessidades que passamos, ainda podíamos sorrir, ainda estávamos uma do lado da outra, mas, tive que tomar uma decisão que acho hoje foi a pior em toda a minha vida, tínhamos uma firma que estava no nome da filha mais velha em sociedade com o pai, que aparentemente era a única coisa que nos restara, no entanto, com tantas dívidas que não era capaz de suprir nossas necessidades, eu longe de casa com elas arrumei o primeiro emprego que apareceu, formada em licenciatura, arrumei um emprego de professora (no qual eu não ganhava nem um salário mínimo), afinal não eram muitas aulas mesmo. A pessoa que tínhamos confiado para cuidar da lan house estava sobrecarregada, administração não era o seu forte e alguém teria de voltar, pensei que pudesse ser eu, mas... deixar as meninas assim sozinhas por tempo indeterminado numa cidade grande, estranha, achei que não seria uma boa ideia, mandar só a mais velha, pra perto de um pai dominador, especialista em tortura psicológica, achei que seria extrema crueldade com ela, teria de manda-las as duas, juntas, para que uma desse força a outra. E assim fiz... Levei-as na rodoviária, coloquei-as no ônibus e mandei-as de volta, com a promessa de que iria busca-las em quatro meses, e se desse ira em menos tempo...
Hoje sinto tanta culpa por isso, hoje sei que o mais acertado era desistir da firma, mesmo com as necessidades que enfrentávamos, nossa relação foi se perdendo com o tempo e a distância. Comecei a namorar novamente, acho q elas não entenderam, não aceitaram, comprei uma nova firma em sociedade com o novo namorado, a situação melhorou um pouco e eu voltei em 4 meses para busca-las, porém, tudo havia se quebrado, elas não quiseram mais voltar, passaram a firma ao comando do pai e eu voltei aos prantos por mil quilômetros sem elas, e já fazem quatro meses que o pranto não cessa.
Apesar de ter paz, de não ser acusada de tudo que há de errado no mundo como antes, apesar de não passar necessidades financeiras, apesar de ser cuidada e acarinhada a todo instante, sinto-me incompleta, ao ponto de passar dias chorando. Das minhas meninas nem um telefonema, nem um recado no Orkut, nem uma palavra no msn. Eu tentei por muitas vezes, mas as palavras eram vagas, tão vagas... tão genéricas, que hoje, as vejo online e fico a olhar para a tela do computador a espera de um oi! Mas, nada acontece.
Eu gostaria que elas soubessem que mesmo que eu esteja com alguém ao meu lado, nada vai substituir a falta que elas fazem e a nada apaga o vazio da ausência delas, nem a dor e a culpa por tê-las mandado de volta. E também que eu as admiro, pela beleza, pela força e determinação, porque são especiais para mim e para o mundo.
Filhas, meninas dos meu olhos!
Lunah Lan
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